"Quando sua realidade particular é desafiada, ela cede à verdade."

What if I say I'm not like the others?
What if I say Im not just another one of your plays?
What if I say I will never surrender?

sábado, 28 de dezembro de 2013

domingo, 15 de dezembro de 2013

Now I'm Nothing

Você coloca uma lança por entre o coração da besta.
Você termina um dia de trabalho tendo feito tudo certo.
Você salva o universo de mais uma ameaça colossal.
Você derruba um regime ditatorial de décadas.
Você morre esmagado por uma empilhadeira numa terça-feira à tarde no intervalo de almoço.
Do outro lado do mundo, um casal comemora o terceiro aniversário do filho que eles não sabem mas vai morrer de leucemia aos 6.
Independente do que você fez, seus filhos não saberão nada sobre sua vida. Seus netos tampouco. Não interessam seus ideais, seus padrões, os principais momentos da sua vida, a época em que foi mais feliz. Ao final de um ano você vai ter sido esquecido por todos. Eles vão saber seu nome, alguns gostos, uma ou outra história importante ou engraçada. Mas sua personalidade, suas crenças, suas filosofias. Tudo isso vai ser jogado fora, como se nunca tivessem existido. Em 100 anos sua marca no mundo vai ser irrelevante. Completamente esquecido.
A notícia boa é que assim também serão seus erros. Todos os ideais que você jogou pela janela, os sonhos que não alcançou, que não foi forte ou bom o suficiente para alcançar. Todas as vezes em que seguiu ideias idiotas, em que contrariou sua própria palavra, todas as vezes em que foi aquilo que mais odiava. Nada disso vai importar mais. Você vai ser enterrado e apodrecer com todos os seus pecados. Se muito, você vai ser lembrado pelos seus pecados. Por ter espancado seus filhos, por ser um alcoólatra, por ter traído sua esposa, por ter sido racista, homofóbico ou qualquer uma dessas muitas coisas. Mas mesmo isso não é tudo que você foi e nem arranha a superfície da sua vida. E não vai passar de algo comentado duas ou três vezes para os seus netos durante os 50 anos de vida dos seus filhos antes deles encontrarem aquele caminhão no cruzamento em São Paulo. Não importa.
Você vai ter mil coisas para falar em seu leito de morte, vai se desesperar, querer gritar, velho, decadente, se agarrar em cada resquício de lucidez, incapaz de mover seus braços, sem forças para respirar normalmente, sem poder sequer falar, sabendo que você nunca mais vai ser nada, que aquele é o último instante da sua existência, sentir-se apagando aos poucos, sua mente nublada pelo inferno que te aguarda. Incapaz, fraco, desesperado. Tudo que ainda tinha para dizer e fazer, espalhado no asfalto ou apagado numa cama de hospital.
E fim.



(Isso é só pra eu me forçar a voltar a escrever, porque eu sinto falta. Eu sei que não tem novidade nem emoção, mas é só pra eu começar a treinar de novo)

Atenciosamente, Chakal.