"Quando sua realidade particular é desafiada, ela cede à verdade."

What if I say I'm not like the others?
What if I say Im not just another one of your plays?
What if I say I will never surrender?

domingo, 15 de dezembro de 2013

Now I'm Nothing

Você coloca uma lança por entre o coração da besta.
Você termina um dia de trabalho tendo feito tudo certo.
Você salva o universo de mais uma ameaça colossal.
Você derruba um regime ditatorial de décadas.
Você morre esmagado por uma empilhadeira numa terça-feira à tarde no intervalo de almoço.
Do outro lado do mundo, um casal comemora o terceiro aniversário do filho que eles não sabem mas vai morrer de leucemia aos 6.
Independente do que você fez, seus filhos não saberão nada sobre sua vida. Seus netos tampouco. Não interessam seus ideais, seus padrões, os principais momentos da sua vida, a época em que foi mais feliz. Ao final de um ano você vai ter sido esquecido por todos. Eles vão saber seu nome, alguns gostos, uma ou outra história importante ou engraçada. Mas sua personalidade, suas crenças, suas filosofias. Tudo isso vai ser jogado fora, como se nunca tivessem existido. Em 100 anos sua marca no mundo vai ser irrelevante. Completamente esquecido.
A notícia boa é que assim também serão seus erros. Todos os ideais que você jogou pela janela, os sonhos que não alcançou, que não foi forte ou bom o suficiente para alcançar. Todas as vezes em que seguiu ideias idiotas, em que contrariou sua própria palavra, todas as vezes em que foi aquilo que mais odiava. Nada disso vai importar mais. Você vai ser enterrado e apodrecer com todos os seus pecados. Se muito, você vai ser lembrado pelos seus pecados. Por ter espancado seus filhos, por ser um alcoólatra, por ter traído sua esposa, por ter sido racista, homofóbico ou qualquer uma dessas muitas coisas. Mas mesmo isso não é tudo que você foi e nem arranha a superfície da sua vida. E não vai passar de algo comentado duas ou três vezes para os seus netos durante os 50 anos de vida dos seus filhos antes deles encontrarem aquele caminhão no cruzamento em São Paulo. Não importa.
Você vai ter mil coisas para falar em seu leito de morte, vai se desesperar, querer gritar, velho, decadente, se agarrar em cada resquício de lucidez, incapaz de mover seus braços, sem forças para respirar normalmente, sem poder sequer falar, sabendo que você nunca mais vai ser nada, que aquele é o último instante da sua existência, sentir-se apagando aos poucos, sua mente nublada pelo inferno que te aguarda. Incapaz, fraco, desesperado. Tudo que ainda tinha para dizer e fazer, espalhado no asfalto ou apagado numa cama de hospital.
E fim.



(Isso é só pra eu me forçar a voltar a escrever, porque eu sinto falta. Eu sei que não tem novidade nem emoção, mas é só pra eu começar a treinar de novo)

Atenciosamente, Chakal.

8 comentários:

  1. Esses pensamentos costumavam me deprimir. Mas o universo é grande demais e nós, humanos, somos inúteis demais. O melhor que podemos fazer é não deixar nada, pois que qualquer marca de nós seriam apenas manchas. Quem sabe um dia chegue em que não deixemos nem outros humanos, para nos substituírem.
    Nosso drama nasce do nosso desejo de grandeza e importância. Da nossa tentativa constante de fugir da nossa irrelevância. É o que diz o S.King e o que, para mim, resume tudo: somos apenas átomos de hidrogênio flutuando por aí, por que algo/alguém ligará para nós?
    Com o tempo se descobre que essa é a melhor coisa que pode acontecer: não fazer diferença. Nós paramos de estragar tudo quando paramos de tentar fazer tudo "certo demais". Não somos necessários, nem maiores, nem insubstituíveis. É isso o que o universo grita na nossa cara a cada instante e que somos surdos demais para ouvir. Talvez o mundo só se resolva quando todos aceitarem sua insignificância e, assim, deixarem-se agir naturalmente. Ser.

    "A realidade não precisa de mim.
    Sinto uma alegria enorme
    Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma.
    Se soubesse que amanhã morria
    E a Primavera era depois de amanhã,
    Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
    Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
    Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
    E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
    Por isso, se morrer agora, morro contente,
    Porque tudo é real e tudo está certo.
    Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
    Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
    Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
    O que for, quando for, é que será o que é."
    [FPessoa]

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    1. hahaha Ô meu deus, eu deveria deixar sua resposta e apagar meu texto, que tá bem melhor.
      Que bom que consegui passar algo com isso então. Eu tenho pra mim isso mesmo, não somos nada, nem necessários, bons, importantes, nada. Eu me desespero com o "ser esquecido um dia", e ao mesmo tempo me fascina o sentimento por trás disso, a paz e o desespero ao mesmo tempo, como deve ser saber que tá acabando, que é aquilo, que acabou... eu nunca consigo passar exatamente o que sinto sobre isso, mas eu sempre to tentando haha.
      Obrigado por uma resposta genial como sempre Maro.

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    2. Sim, é exatamente um pouco dessa luta entre ficar satisfeito ou desesperado com essa insignificância. Mas acho que entrei em uma onda de que é melhor não se matar por nada porque não vai valer a pena mesmo, então decidi que ficar satisfeito com a indiferença do universo conosco é a postura mais racional.

      Ah, você passa sim, só acha que não. rs

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    3. É. Eu nunca fui corajoso o bastante pra me matar mesmo, eu sei que não vai fazer diferença e eu vou acabar me arrependendo (não vou porque vou estar morto mas enfim) de não ver o máximo que eu puder. E de não conquistar nada que seja pra mim, pra mim mesmo... Enfim, haha. Obrigado por achar que eu passo.

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  2. PS: Também sinto falta dos seus textos, então recomece - e não pare [:

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    1. E vou tentar. Obrigado pelas palavras. Dois anos atrás uma mensagem sua foi a responsável por eu ainda ter uma pontinha de orgulho e "esperança" escrevendo isso, de repente é o que vai de novo haha.

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    2. (:
      Legal saber disso.
      Gosto do que escreve, e me identifico bastante, apesar de ser mais branda quando me expresso, rs.

      [PS: Falando nisso, posso roubar um trecho de um texto seu?]

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    3. hahahaha claro que pode, roube o que quiser. Fique à vontade. E é, obrigado por todas as palavras gentis.

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