Primeiro de tudo, esse texto teve vários formatos e temas, até eu ter coragem de escrever desse jeito. Não tem nada de bom nele, e eu não sei escrever. Isso não é novidade.
Mas o blog é meu, então tem que ter coisas minhas...baseei ele nessa frase do Game of Thrones, o primeiro livro dAs Crônicas de Gelo e Fogo. Desculpem qualquer coisa, e principalmente, o tamanho do texto. Espero que valha à pena. Desde já obrigado aos que lerem.
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"My mother told me that dead men sing no song".
Recarreguei a pistola. Eu tinha permissão para isso.
Não que eu me importasse. Eu não sou do tipo herói. Não coloco minha cabeça na linha
para salvar e proteger pessoas que não merecem.
Eu não sou do tipo que vai salvar alguém.
Não é preciso muito mais do que acordar mal para que eu vire a cara para um assalto ou uma tentativa de assassinato. E não me venha com críticas.
Você faz o mesmo todos os dias.
Da próxima vez que levantar esse dedo para acusar alguém do que quer que seja,
sinta o cheiro de carne podre e pense antes de falar algo. Mesmo que a pessoa não saiba o que você fez, você deveria ter um pingo de consciência já que vai acusar alguém, e isso deveria impedir que acuse alguém de algo que você faz. Mas eu sei que isso não acontece e que você vai falar merda de qualquer jeito.
Mas uma pergunta coerente pode estar vagando nessa cabecinha inútil sua.
Se eu não vou defender ninguém, nem coibir o crime, porque sou um policial?
E a resposta é simples: eu gosto da violência.
Ela me atrai. Eu gosto de ver o sangue espirrando na parede atrás do alvo.
Gosto de ouvir o baque seco do corpo ao cair no chão, e o som esponjoso dos miolos e vísceras que se espalham pela sala.
Eu gosto de matar pessoas.
Outra pergunta boa que você provavelmente não está se fazendo é, se gosta da violência porque não vira bandido? Afinal, matar alguém como policial dá muita dor de cabeça. Os filmes não mostram isso, e de fato, dá muita.
Mas a minha resposta é bem simples, para alguém com cérebro ao menos. Ainda é melhor a dor de cabeça do que a cabeça a prêmio como bandido, não?
Prefiro a papelada e a psicóloga do que uma bala entre as minhas costelas dois e três.
Esclarecido isso, voltemos ao que importa. Eu disse que coloquei meu pente na arma, puxei o ferrolho. Ouvi o sino da vitória. Bala na agulha. Bingo.
O tambor atrás do qual me escondia treme com os dois últimos disparos. O infeliz quer mesmo me matar. Consigo sentir a parede de dentro quente com essa última bala. É bom eu sair daqui logo.
Tem uma coisa sobre tiroteios que os filmes não costumam mostrar. Não se mostra lá a sensação que se tem quando você olha na ponta de uma arma, sabendo que o dedo do cidadão em porte dela só precisa de um segundo, e que você nunca vai ver o que saiu de lá. Aliás, você nunca mais vai ver nada. Um pouco de pressão nesses poucos segundos, não? Pois bem, essa é a pressão que senti no momento em que dei a última respirada antes de sair de trás do barril. É difícil explicar.
Você torce para o cara não mirar tão rápido quanto você consegue correr e vai. Mais ou menos assim.
Me levantei andando de lado e pregando bala em cada pedaço do sujeito. Ou ao menos tentando.
Três tiros na parede atrás dele e ele se abaixou atrás do container. Filho da mãe.
O problema de um cara se esconder de você em meio a um tiroteio é que você não pode se dar ao luxo de ficar com a cabeça de fora esperando a noiva aparecer. E nesse tempo em que você não está olhando ele pode se esgueirar por outro lado e atravessar uma bala entre suas ideias quando você menos espera. Você precisa ser atencioso. Por isso é bom ouvir bem. Ao menos o suficiente para ouvir os passos atrás de você.
Mas o meu alvo não era assim tão esperto. Eu nem me escondi e ele já começou a correr, tentando fugir de mim. Mais duas balas na parede. Coitada...
Me levantei e segui no encalço. Qual foi a minha surpresa quando senti o ar se mover com a bala que passou por mim. Me agachei na lateral do mesmo container. O infeliz sabia que eu viria atrás, por isso correu. Não que ele tenha parado, mas foi uma boa ideia. Eu dei sorte.
A maioria das pessoas se desespera nesse tipo de situação. Se desespera quando tem alguém correndo com uma arma atrás dele. Nem precisa ser uma arma. Basta ameaçar alguém com uma discussão mais profunda, ou um conflito de interesses. As pessoas tendem a correr em desespero do confronto. Já viu o desespero de uma pessoa quando um problema acontece? Não precisa ser nada sério. Pode ser o término de um namoro. É tudo que basta para uma pessoa fraca se sentir no direito de cometer todas as besteiras possíveis pelo próximo mês. Ela vai encher a cara, quebrar todos os dentes, vomitar durante duas semanas, ter crises e mais crises e pedir para que ninguém a aborreça, porque ela está sensível, frágil, e passou por um momento difícil. Pois eu tenho uma novidade, NÃO INTERESSA O PROBLEMA, SE VOCÊ TOMA UMA ATITUDE ERRADA, VOCÊ MERECE SER PUNIDO! Eu costumo perder a amizade desse tipo de pessoa muito fácil. Costumo não deixar de aborrecer as pessoas porque elas quebraram a unha, ou porque perderam o 13º amor da vida delas. Por mim, eu descarregava minha arma nesse tipo, mas nós já falamos sobre a dor de cabeça de matar alguém quando se é policial.
Pois bem, voltando à Cinderela correndo à meia noite, antes que ele virasse a esquina desse beco maldito, consegui depositar gentilmente uma bala entre a panturrilha e a canela do infeliz. 6 tiros, 6 para ir ainda. É importante manter esses números na cabeça. A arma não tem um contador digital para quantas balas ainda tem. Corri até a esquina, e parei um pouco antes, só por precaução. Coloquei a cabeça para fora e vi o cretino correndo pelo beco para chegar à rua.
Um problema que eu tenho com ruas é a quantidade de tripas que eu posso colocar para fora antes de atingir meu alvo de fato. De novo, nós sabemos bem a dor de cabeça que isso é para o herói aqui. Tentei um disparo longo. Tinha uns 25 metros de distância entre eu e ele. Minha arma consegue ser letal até 50 metros. Se for pensar, é uma boa distância para estourar os miolos de alguém. Dá quase para ignorar o fato de que você quem matou e dormir sem culpa à noite. Quase...
Dei outros dois tiros enquanto ele mancava. Errei um, o outro levou embora um dos rins do cara. Enquanto ele caía corri para detrás de uma lixeira. Não se deixe levar pelo calor, é o que eu sempre digo. Não é porque seu inimigo vai ter que frequentar a hemodiálise frenquentemente que você deve achar que acabou.
O filho da mãe se virou deitado no chão e disparou mais duas vezes. Quantas balas esse cara tem? Ouvi o barulho de derrapadas e freadas... demorei um pouco para entender.
Sabe, todos os policiais andam em dupla. Agora que falei isso vocês devem estar se perguntando o que aconteceu com o meu parceiro, que é exatamente o que eu estou pensando...ele sempre foi um preguiçoso filho da puta, nunca arrastou o traseiro para nada, sempre dando desculpas para tudo e acusando os outros. Tudo que eu pedi foi que ele vigiasse a outra saída. No caso, essa de onde uma van acabou de sair com dois sujeitos fortemente armados. Tomara que aquele porra esteja morto.
Bem, tenho mais dois problemas para lidar.
Uma coisa que o gênio no banco do passageiro não percebeu é que a van derrapada atrás dele fechou a única saída que eles tinham, e deixou ele em aberto no meio do corredor.
O que era tudo que eu precisava. Ele mal puxou o cão do revólver que ele carregava.
Blam!
Cérebro no vidro lateral. A van preta ganhou uma cor rubro-negra agradável da distância em que eu olhava.
Uma coisa bem comum em guerras e que costuma funcionar ainda melhor quando se está em menor número é o fator moral.
O simples fato de gastar apenas uma bala para matar um cara que apareceu a menos de 2 segundos pode ser intimidador para algumas pessoas. Foi o que aconteceu com o motorista. Não precisou de muito tempo para que ele estivesse escondido atrás da van.
Ainda tinha 3 balas na pistola, e só mais um pente no cinto. A USP .45 ACP que eu carrego é uma boa arma, mas às vezes ela pode ser problemática. Tem sempre a chance da bala ficar agarrada na câmara e ferrar todo o processo. Não quis me focar nisso.
Me concentrei no fato de que ainda tinha um alvo e meio para finalizar.
Aparentemente meu amigo deitado estava sem balas, porque se arrastava desesperadamente para a van. O amigo dele, por sua vez, se preocupou em descarregar a 1911 dele contra a lixeira onde eu estava.
Me levantei calmamente e disparei contra o pneu esquerdo da van. A frente deu uma caída e o colega atrás já se prontificou a mudar de posição. Era a chance que eu queria. 20 metros, disparei minha penúltima bala e errei o infeliz. Espalhei cacos de vidro do para-brisa pela região, só para dar um toque de filme de ação. Me esquivei dos tiros frescos. Às vezes eu me pergunto se essa vida vale à pena...mas eu me lembro que não é só pelo dinheiro.
Apertei o retêm e deixei cair o último cartucho. A bala do anterior ainda na agulha. Disparei 5 direto contra a van, enquanto corria para um monte de lixo próximo. Aqueles sacos não segurariam um disparo sequer, mas eu torci para que eles não vissem para onde eu estava indo.
8 para finalizar...
Esperei as primeiras balas, o mais encostado na parede que pude. Por um momento, cheguei a murchar minha barriga, mas depois pensei o quão idiota aquilo era. Torci para que o alvo fosse a lixeira.
Dito e feito.
Me levantei e mirei bem no instante que tinha antes de ele perceber o quão fodido estava.
Blam!
Blam!
Blam!
Um no pescoço, outro no ombro e um home run que provavelmente acertou o gato da vizinha. Mais do que suficiente.
Logo abaixo o meio-vivo recarregou a arma surpreendentemente e voltou a disparar contra mim.
Saltei sobre o lixo disparando cegamente contra ele. Errei todos os tiros.
Preciso melhorar minha taxa de acerto.
Me joguei no chão esperando queimar.
Clic...
O som da vitória.
Me levantei e vi a expressão de desespero crescendo na cara do desgraçado. Não consegui segurar o sorriso. Ainda tinha duas balas na minha arma. Eu iria precisar das duas.
Me aproximei da minhoca desesperada por um buraco para se esconder.
Apoiei gentilmente o coturno no vão que dizia "vaga para um rim". Ouvi um grito. Sabe o que dizem, música para os ouvidos.
Disparei contra a perna intacta. Outro grito.
Levei um segundo olhando fundo nos olhos dele, suor pela cara toda. Coloquei ele de pé, empurrei-o contra a van. Não podia parecer uma execução. Ele se agarrou ao retrovisor e se virou para mim. Apontei meu brinquedo, inclinei-a lentamente e puxei o gatilho o mais devagar que consegui.
BLAM!
O pessoal da limpeza vai ter trabalho com esse.
Respirei fundo...a porta aberta atrás dos dois corpos revelou um grande presente.
Meu colega apareceu correndo da rua atrás da van, arma em punho, suando como um porco. Olhou para mim e soltou as piores palavras possíveis.
"Quando ouvi os tiros vim o mais rápido que pude".
O MAIS RÁPIDO QUE PÔDE?
Pode não parecer o maior tempo do mundo, mas eu consigo contar ao menos 3 vezes em que estive perto da morte, que poderiam ser evitadas se esse gordo maldito tivesse feito o que eu mandei. Me aproximei da porta aberta da van. Tirei minhas luvas detrás do cinto e vesti-as.
Consegui ver a cara dele confusa por um momento.
É sério. Eu odeio gente lenta.
Lenta.
Hipócrita.
Gorda.
Cínica.
Inútil.
Clac-clac.
BLAM!
Estilhaços de gordura, músculos e sangue por todo o lado. Consegui ver o rombo que esse presente era capaz de fazer. Calibre 12, a arma do século. Dava para estacionar um carro esportivo no lugar onde antes haviam costelas, um coração e dois pulmões. Joguei a arma no chão, próximo aos outros dois corpos. Guardei as luvas.
Meu parceiro caiu devagar, esparramando sangue pela boca com os reflexos musculares... devagar...
Ele vai estar melhor assim. Todo mundo conhece ao menos uma dúzia de idiotas que acham que uma pessoa morta é sempre respeitável e decente, e que morrer redime todos os pecados, erros e burradas que se pode cometer. Sempre que posso provo que elas estão erradas.
Foi um bom dia. Gosto de lidar com meus problemas um por vez...
Sou um homem de gostos simples, e vou atrás deles sempre que posso.
Quando uma oportunidade aparece, não dá para desperdiçar.
Cometi algumas coisas fora do padrão aqui, mas não tem ninguém para saber.
"My mother told me that dead men sing no song".
Atenciosamente, Chakal.