"Quando sua realidade particular é desafiada, ela cede à verdade."

What if I say I'm not like the others?
What if I say Im not just another one of your plays?
What if I say I will never surrender?

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Just do it

Quarto andar. O primeiro andar tem uma espécie de sacada, na verdade a área que serve de teto pra portaria e pro celeiro entre portas de vidro que separa o prédio da rua. Mas com uma corrida antes dá pra passar direto para a rua em um arco no 4º andar. Acho que só um impulso direto da janela daria conta do recado.
4 andares. Se o Pé direito mínimo é de 3, 50 metros, mais a Laje de 12 cm, um pouco mais, um pouco menos, então cada andar teria de 3,62. Algo em torno de 14 metros. 90 % das quedas são letais acima de 7 metros se você aterrizar com a sua cabeça no asfalto macio e fresquinho da manhã. 

A janela é larga, eu consigo um salto pra frente e daí pra baixo é só virar um pouco o corpo e bum, cabeça no chão. 
Não deve ser difícil.
Mas exige coragem. 
Eu não tenho tanta assim.
Mas olhar para a janela não torna nada menos tentador.
Já pensou o quão insignificante a gente consegue ser? 
Claro que já.
Todo profeta, filósofo e intelectual de peso leve já. É a base do pensamento "intelectual". Essa lamentação idiota sobre o mundo cruel e frio.
É.
Você tá andando tranquilamente e de repente um caminhão de lixo perde o controle e atravessa seu ônibus no meio, você capota, outro carro bate nele e pronto, ferragens pra todo lado. Em um instante você está reclamando da faculdade e no seguinte você está em meio a ferros, barras, pedaços de gente e vai presenciar uma cena que você nunca achou que fosse. Se não morto, você pode ter se machucado de um jeito bacana. Em um instante você está inteiro, e no seguinte você vai ter como maior desafio limpar sua bunda sem dois dedos na mão, ou atravessar a rua com um olho só, ou se arrastar até a janela quebrada mais próxima com um pedaço da catraca atravessado na sua cocha. Um ferimento em alguma das maiores artérias do corpo te mata em minutos, e você reclamando da faculdade hoje pela manhã.
Você pula do 4º andar, não morre porque cai de costas, em pé ou qualquer outra coisa. Você vai ter que viver com as sequelas, ser um retardado, manco, paraplégico, e ainda ter que aguentar terapias e mais terapias, perguntas e mais perguntas.
Ah, o inferno das perguntas. As malditas perguntas. Psicólogos, aconselhamento familiar, pai, mãe, tios. 
Daria pra tornar isso divertido, pensando agora. Todo mundo te enchendo o saco, e se preocupando com você e com como e quando você vai tentar se matar novamente, e todos te dizendo o quanto sua vida é boa, o quanto sua faculdade é boa, o quanto você é novo, quantos amigos você tem e o quanto você é importante na vida de todo mundo. Você pode se divertir com essa besteira, pode entrar para um banheiro em uma festa familiar e ficar lá por 30 minutos, até alguém arrombar a porta e você sentado na privada com cara de surpreso. Ou você pode soltar frases entre as coisas corriqueiras como "se isso der errado eu me mato", "a vida não vale nada mesmo né?" ou "essa faca tá bem afiada?". As pessoas se torcem nessas horas, elas não sabem lidar com tanta pressão assim. 
A parte mais divertida de se matar com certeza é a culpa que você vai deixar na vida de cada filho da puta que se importava com você e fez algo de ruim mesmo assim. A sensação lá dentro de que cada imbecil que agiu como não devia foi responsável por isso. 
Mas você não vai pular. Você vai entrar no ônibus e ir pra faculdade, e reclamar do seu serviço, do seu chefe, e chorar, e cantar e sorrir e se matar do jeito mais covarde possível, lentamente. 
E os outros vão te ajudar.Todo mundo vai estar lá pra te tirar um pedaço fora, um pouquinho por vez, uma conversinha amigável, uma crise imbecil, uma fofoca idiota, até você estar tão desiludido que qualquer merda boa que acontecer na sua vida vai ser uma nova conquista, porque você se arrasta por aí, porque te quebraram suas pernas, porque alguém dirigiu um caminhão de lixo pra dentro do ônibus que você realmente queria pegar, e agora você é um resto do que foi, um lixo sem perspectiva. E quem pode te culpar?
Mas não, você não vai se matar. Você não tem tanta sorte.

2 comentários:

  1. Adorei esse post.
    A mensagem importante é fazer cada coisa de cada vez.
    Isso que eu penso.

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  2. É o que eu chamo de conformismo.
    Vamos levando, deixando pra amanhã o que realmente gostaríamos de fazer. Primeiro vou me formar, e depois faço a faculdade que desejar. Primeiro vou pegar o diploma e depois me viro com as minhas rebeldias. Primeiro vou trabalhar e me sustentar e depois conserto o mundo. Primeiro vou estudar meu filho e depois eu me solto dessa cadeia de necessidades desnecessárias.
    Que nada, vamos acabar igual a todo mundo, e vamos ensinar os nossos filhos a fazerem o mesmo. E vamos conseguir, de brinde, deixar as coisas ainda piores para os que chegarem depois.
    Preferiria que nos matássemos todos.

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