"Quando sua realidade particular é desafiada, ela cede à verdade."

What if I say I'm not like the others?
What if I say Im not just another one of your plays?
What if I say I will never surrender?

sábado, 22 de setembro de 2012

As I was saying...

Que vontade de escrever esse de hoje em inglês...mas depois vão me chamar de elitista colonizador de novo, melhor não.

------------------------------------


Você vê as pessoas andando por aí e as julga, olha com seu olhar superior e pensa "pobres coitados, macacos de terno, andando, fodendo e comendo, sem pensar em nada importante, sem propósito na vida. Se eles ao menos soubessem a verdade". Mas eu tento olhar as coisas do lado positivo, ver o lado bom!
Você olha esses bossais andando na rua e vê uma pilha de excremento que não se relaciona em nada com você. Eu vejo uma pilha tão complexa, com detalhezinhos mínimos. Eu vejo em cada pessoa uma pilha infinita de desejos, anseios, teorias, manias. Cada pessoa é um poço de complicações infinitas, única em cada aspecto e combinação possível, tudo embalado dentro de uma caixinha linda de carne, vísceras e merda. E muito do que cada um tem é exatamente o mesmo que você é. As pessoas são mais parecidas com o que desprezam do que pensam na maioria das vezes, graças a algo lindo e belo chamado hipocrisia. Apontar um erro que você vai cometer no instante seguinte não é exatamente classudo.
Cada vida de cada ser humano nesse planeta por si só daria um livro, uma história inteira cheia de detalhes interessantes para serem contados. Cada pessoa nesse mundo é única, impossível de ser perfeitamente copiada. Uma bola gigantesca de individualidades, com traumas, vontades, ideais e discursos em combinações infinitas. 
Você consegue imaginar isso? Cada pessoa andando na rua à sua volta é uma compilação única de gostos e características que nunca vão se repetir completamente, com experiências que moldaram e transformaram ela no que ela é hoje, seja ativa ou passivamente. Você consegue olhar nos olhos de cada uma dessas pessoas e ver o quanto elas são especiais? O quanto elas são únicas enquanto indivíduo, e especiais, com cada um dos seus sonhos mais distantes, e suas lutas diárias. Não é incrível? Ver essa combinação irrepetível andando para lá e pra cá, cada pessoa que passa por você uma coisa única e com potencial para ser algo que ninguém mais poderia ser, lutando contra cada vento forte, ou se deixando levar por cada brisa. Eu acho algo de mágico nisso, o indivíduo sobrepondo ou se rendendo frente a cada obstáculo, vivendo cada dia, transformando a vida das pessoas em volta e sendo transformado por elas, esse ser moldado perfeitamente com todas as esquisitices, seus medos, objetivos, esperanças, feridas e emoções, subitamente esmagadas por uma pilha de ferragens e vidro viajando sobre rodas a 150 quilômetros por hora. 
Não é maravilhoso? Toda essa complexidade sendo levemente pressionada contra uma parede por um caminhão desgovernado, desaparecendo do mundo em uma esquina, uma distração e blam.
Para mim é quase um milagre, uma sinfonia perfeita, sentir a última respiração de uma combinação infinita e impossível de repetir esvaindo sob a sua bota.
Colocar o cano gelado de uma arma dentro da boca dessa criação divina, e sentir a beleza impossível de copiar se espalhando em uma entropia de miolos e pensamentos sobre o asfalto. Puxar o gatilho é quase uma obra de arte...
Você pode render essa pessoa, mandar ela fazer seu último pedido, e tentar apreciar o que passa na cabeça dela nesse instante. Nós somos incapazes de saber como é essa sensação, esse último instante antes de tudo que você é desaparecer, essa pressão sobre você e tudo que você é e nunca mais vai ser. É impossível pensar como é deixar de existir, deixar de ser. É desesperador não? É maravilhoso. Você poderia deixar essa pessoa falar seu último pedido, e você desmancharia em poeira antes de ela terminar de falar tudo que queria. Seus ouvidos ensurdeceriam em sangue, pedido após pedido, vontade após vontade. Nada melhor que essa terapia.
Você coloca a arma na parte de trás de uma pessoa, perto o suficiente para ela sentir o cano quente. Faça uma fila, uma pessoa após a outra. E deixe cada uma fazer seu pedido em voz alta. Encha a cabeça de cada uma dessas pessoas com o desespero dos outros. Deixe que cada um ali seja o melhor amigo um do outro, torne-os confidentes. Faça-os chorar e implorar, faça-os abrir e mostrar. Não deixe que vejam a arma. Coloque-os lado a lado e faça-os cair. Tente imaginar o desespero de cada um, sem saber quando sua vida vai acabar. Imagine a sensação, a agonia de cada um, pensando quando é que o tiro virá, e como vai ser morrer. Tente. Imagine como seria, não saber quando é que a arma está sendo apontada pra você, e que a qualquer instante, qualquer segundo, blam. Tudo que você foi um dia agora é arte abstrata espalhada pelo chão. Como será que é?
Um instante você é uma pessoa, recheada de maravilhas e no seguinte você é um objeto deixado no canto de uma calçada no passeio de sábado à tarde. 

Não é a sensação mais opressora possível? Sentir isso deve ser a coisa mais libertadora do mundo. Não ter mais esperança. Ver todos seus sonhos acabando ali. Tudo que você se tornou, lutou para ser, sofreu e se tornou, tudo que te arrancaram e tudo que te deram, acaba ali. Não ter mais vontades, não poder ter mais vontades. Nada consegue ser tão libertador.
Quando é que vai ser?

É por isso que eu não deixo meu coldre travado. Não preciso de mais do que um instante para um maluco qualquer me atacar por trás com um pé de cabra, e se esse instante chegar, eu quero ao menos saber que minha vida não foi terminada por causa de um maldito botão, e sim porque eu fui burro o suficiente para não perceber os sinais.

Pensando nisso agora, já contei como foi que o pé de cabra surgiu nessa história toda? Pois bem...

-----------------------------------------------


Eu juro que não vão mais ter esses finaizinhos abertos ridículos de novela das 8. Esse foi o último.

2 comentários:

  1. Demais. No final a vida não é nada perto da morte.

    ResponderExcluir
  2. E quando toda essa beleza explode, a gente pára pra pensar o quanto ela é útil e indispensável.
    Não servimos pra nada mesmo. Mas tem quem tente fingir o contrário.
    No mais: "Demais."

    ResponderExcluir